Quem sou eu

Minha foto
Piracicaba, SP, Brazil
Sou casada, tenho um filho, amo viver, adoro trabalhos manuais, música, filmes, antiguidades etc.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

A moça, o bebê e o banquinho de piano

Arranjo feito com poda de jardineiro que me deixou recolher
o que ia para o lixo


     Naquela tarde, uma vez  mais, cheguei em casa carregada de sacolas. Talvez se eu fosse um polvo desse conta das muitas coisas que tenho carregado nessa vida. Mas não sou e nessa encarnação creio que nunca serei.
     Mas cheguei ao prédio e me coloquei a descarregar tudo aquilo que trazia.
     E no hall, me observando, uma moça de longos cabelos negros. No colo, a simpatia em forma de bebê: um  menino dos seus sete meses, sorridente apesar da chupeta que equilibrava na boca. Ao lado, um banquinho de piano.
     Como o dia tinha sido de calor absurdo, creio que a jovem mãe levou a criança apenas de fralda descartável.
     No entanto, e como é bem comum nesses dias calorentos, o fim da tarde trouxe chuva e um vento gelado.
  Tentando proteger o bebê, a mãe lhe amarrou às costas uma fralda de tecido (provavelmente a fralda de boca).
     Dessa forma, ele parecia um super bebê com essa capa de fralda.
     Ao lado, quieto como lhe convinha, o banquinho de piano esperava.
   Quando chego ao meu andar, me deparo com cerca de cinco homens e um piano barrando a porta do elevador.
    Ora, o piano claramente não cabia no elevador e estudavam agora sua descida pelas escadas.
      Todos estavam excitados e suados pela missão.
     A moça lá embaixo. O super bebê ao colo. O banquinho impaciente. O piano aqui em cima, deixando seu lar de muitos, mas muito anos mesmo.
    A pianista morrera há tempos e seu silêncio gritava pelo apartamento. O banquinho vazio, as teclas inertes, a quietude atordoante.
      Agora a moça o teria e o super bebê poderia ouvi-la tocar.
     Esse mesmo piano também tinha embalado outro bebê, agora um homem de cerca de cinquenta anos que acompanhava a confusão criada porque decidira se desfazer do piano.
     E sua falecida mãe também havia sido, um dia, uma moça pianista, como a moça que esperava no hall.
      E também se excitara com a chegada desse mesmíssimo instrumento.
     Por isso, eu chego carregada de sacolas, suada e alegre por ter uma moça, um bebê e um banquinho de piano no hall, me observando nessa encarnação onde só tenho duas mãos.




Eu recomendo

Eu recomendo

costureiras de Tarsila

costureiras de Tarsila

Obrigada pela visita! Volte sempre!

Gentileza Gera Gentileza